Prometeu e Pandora

9/07/2005

Sabá

"Por que você morreu? Pra onde foi? Por mais que você me tenha odiado, por que não voltou para que pudéssemos continuar nossa vida linear, lógica, como todos os casais que se odeiam?"


Sabá

Acabo de reler O teatro de Sabbath, romance de Philip Roth, uma versão acabada da pós-modernidade, era desconfortável, trancada, apesar do desejo absurdo de liberdade, numa sociedade que é um teatro de vontades descartáveis, incoerentes, do tudo pode, do tudo se quer. Olivro? Narra as aventuras de Mickey Sabbath, que tem no sexo o objeto de todos os seus atos. Velho, reumático, sujo, nojento, pervertido, Sabbath vive, praticamente, da lembrança dos mortos: o pai, a ex-mulher desaparecida, o irmão morto na II Guerra, a mãe que gostava mais do irmão do que dele, e Drenka, sua amante de longos anos e muito mais obscena do que ele.
Quando seu amigo Lincoln se suicida, vai para casa de outro amigo, Norman, cara muito “normal” e muito chato, com sucesso no emprego, casamento perfeito, filha brilhante, casa espetacular. Mas só sobrevive se tiver Prozac, a droga que, praticamente, é o ícone da pós-modernidade.
Desesperado por fugir da normalidade que cerca sua vida, da hipocrisia, do nojo de viver, Sabbath conclui que: “a gente precisa se dedicar a foder do mesmo modo que um monge se devota a Deus. A maioria dos homens intercala a atividade de foder nos intervalos daquilo que definem como preocupações mais importantes: a caça ao dinheiro, poder, política, moda...Mas Sabbath tinha simplificado a sua vida e intercalado as demais atividades nos intervalos da principal, que era foder.” E é o que ele faz com tudo.
Essa citação de Sabbath me lembra outra, de "Memórias de minhas putas tristes", de Garcia Márquez: “O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança.” Isso não é moralismo barato, pelo amor de deus! só tem a ver com a tristeza diante da vida que se esvai sem que a gente tenha feito nada que valha a pena.


 
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